quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Bancada da bala: um bunker para homenagear a Rota na Câmara Municipal de SP



O nosso júri é racional, não falha!
Não somos fã de canalha!
Racionais MCs


A Câmara de Municipal de São Paulo aprovou nesta terça-feira (3), por 37 votos a 15, o projeto do vereador coronel Telhada (PSDB), para conceder uma Salva de Prata para a Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), uma honraria do legislativo paulistano a tropa de elite da Polícia Militar que ficou conhecida como a “polícia que mata”.

O projeto foi repudiado por organizações e ativistas que defendem os Direitos Humanos desde que foi apresentado e defendido pelos vereadores que compõe a bancada política e militar da bala como Álvaro Camilo (PSD), ex-comandante-geral da PM, e Conte Lopes (PTB), capitão aposentado que também atuou na Rota e foi deputado estadual, além do Telhada, ex-comandante da Rota e autor do projeto. 

O projeto tem como justificativa os serviços prestados pela Rota durante a ditadura militar que resultou na prisão, tortura e morte de oponentes ao regime até execuções sumárias denunciadas no livro Rota 66 - A história da policia que mata, do jornalista Caco Barcelos. 

Foi a quarta vez que o projeto foi para votação no plenário em duas semanas. Manifestantes contrários a homenagem passaram a comparecer as sessões com faixas e cartazes para pressionar os vereadores a abandonar o projeto de caráter corporativista de interesse apenas da bancada política e militar da bala e exigir que fosse colocado na pauta assuntos que beneficiassem toda a população da cidade. 

O vereador Floriano Pesaro, líder do PSDB na Câmara, chegou a afirmar que nada mais seria votado enquanto o projeto do Telhada não fosse aprovado. Como se não houvesse para a população mais pobre que vive na cidade urgências maiores do que prestar homenagem a Rota.  

Sonia Mele/CMSP

Toda vez que os vereadores da bancada política e militar da bala defendiam o projeto, a Polícia Militar e as ações da Rota, os manifestantes respondiam: “Da Rota eu abro mão, quero ver na pauta mais saúde e educação!”, “Assassinos!” e “Justiça!”. Toda vez que um vereador defendia ou votava favorável ao projeto, era fortemente vaiado.


RenattodSousa/CMSP
 Placar da sessão: Favoráveis 37 x 15 Contrários a Salva de Prata a Rota   (1 abstenção)

A confusão começou quando o vereador José Américo (PT), presidente da Câmara, deu ordem para que os policiais militares expulsassem da sessão os manifestantes que não se calaram quando o coronel Telhada disse que eles promoviam uma perseguição “nazista”. O plenário foi tomado pelo coro: “Polícia, racista, fascista não passarão!”. Os manifestantes também denunciaram que a vereadora Juliana Cardoso (PT), enquanto falava, foi chamada de “vagabunda” por um dos apoiadores da bancada política e militar da bala, também presentes na sessão a convite do próprio Telhada, e que nada havia sido feito para retirá-lo de lá.

Assista: PMs agridem manifestantes na Câmara de SP

Telhada ficou conhecido durante e depois das eleições por ameaçar defensores dos Direitos Humanos e jornalistas, como informa a reportagem do jornal Brasil de Fato.

Coincidência ou não, há cerca de um mês, 25 policiais militares da Rota foram condenados pela morte de 52 presos no massacre do Carandiru. Os presos foram executados pelos PMs no terceiro pavimento do pavilhão 9 do presídio no dia 2 de outubro de 1992. Eles receberam uma pena de 624 anos de reclusão cada um, mas estão em liberdade.

O julgamento do caso, considerado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo como o maior já realizado pela Justiça do Estado, representa uma segunda etapa: em abril, no primeiro júri do massacre, 23 PMs foram condenados a 156 anos pela morte de 13 presos que estavam no segundo pavimento do presídio. Ao todo, o massacre registrou 111 mortos e 84 policiais denunciados. Mais dois julgamentos do caso ocorrerão, um previsto ainda para este ano e o outro no início do ano que vem.

No final da sessão que manchou de sangue da juventude negra, pobre e periférica na Câmara Municipal de SP, os manifestantes lembraram aos vereadores que aprovaram a homenagem a Rota que “a rua vai cobrar!”.

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