domingo, 28 de setembro de 2014

Programação comemora o centenário da escritora Carolina Maria de Jesus em SP


No ano em que a escritora Carolina Maria de Jesus faria cem anos, programação rende femenagens com oficinas, mesas-redondas, debates, filmes, intervenções cênicas e leituras em vários espaços de São Paulo









Muitas fugiam ao me ver
Pensando que eu não percebia
Outras pediam pra ler
Os versos que eu escrevia

Era papel que eu catava
Para custear o meu viver
E no lixo eu encontrava livros para ler
Quantas coisas eu quiz fazer
Fui tolhida pelo preconceito
Se eu extinguir quero renascer
Num país que predomina o preto

Adeus! Adeus, eu vou morrer!
E deixo esses versos ao meu país
Se é que temos o direito de renascer
Quero um lugar, onde o preto é feliz.

Carolina Maria de Jesus








 
PROGRAMAÇÃO DE OUTUBRO: CAROLINA MARIA DE JESUS

04/10, Sábado

10h às 13h | OFICINA: “CARTAS PARA CAROLINA: CHÃO, TETO E PÁGINA”, com Allan da Rosa

Criação pessoal e coletiva de textos e cartas, utilizando argila e trechos escritos por Carolina de Jesus enfatizando migração e moradia.
Ocupação São João
Av. São João, nº 588, República, centro de São Paulo
 
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14h às 17h | SAMBA COM CAROLINA

Roda de sambas de Carolina de Jesus e sambas paulistas.
Com Camilla Trindade & Samba Wetu Ukweli Wetu

Biblioteca Mario de Andrade, das 14h às 17h
Rua da Consolação, nº 94, Centro


 

08/10, Quarta-feira, 19h às 22h

“NA ALVENARIA SAMBANDO A BITITA: CAROLINA ALÉM DE ‘QUARTO DE DESPEJO”

Projeção do filme: O PAPEL E O MAR, de Luiz Antônio Pilar

Mesa redonda:

“Sobre ‘Casa de Alvenaria’”
, com Fernanda Miranda (mestre em Letras, pesquisadora da obra de Carolina de Jesus)

“Carolina, personagem teatral”, com Lucélia Sérgio (Atriz e diretora na Cia Os Crespos)

“Sobre “Diário de Bitita e as músicas de Carolina” Com Flavia Rios (Socióloga, pesquisadora da vida e obra de Carolina de Jesus)


Intervenções de Janette Santiago
Biblioteca Mario de Andrade, das 14h às 17h
Rua da Consolação, nº 94, Centro


22/10, Quarta, 19h às 22h

“CAROLINA DE JESUS, LETRA QUE ARRANHA, ESPETA E FERTILIZA”.

Mesa Redonda
“Textos de sangue – o estilo e o abalo”, com Mário Augusto (Professor da UNICAMP, sociólogo)

“Carolina, suas armas, horizontes e rastros”, com Jarid Arraes (cordelista, pesquisadora e  jornalista)

“Carolina, sujeira no circuito editorial brasileiro?”, com Marciano Ventura (escritor e editor, criador do selo “Ciclo Contínuo”)

Biblioteca Mario de Andrade, das 14h às 17h
Rua da Consolação, nº 94, Centro


25/10, Sábado, 16h às 20h

“CAROLINA DE JESUS, A ARQUITETURA DA SOBREVIVÊNCIA E DO REVIDE”

Intervenção cênica e Projeção do filme “Vidas de Carolina”, de Jéssica Queiroz
  
Mesa redonda:
“Gritos e sussurros negros de Carolina”, com Débora Garcia (Atriz, poeta, presidente da Associação Literatura no Brasil)

“Ironia e drama em Quarto de Despejo”, com Fernanda Sousa (Professora e pesquisadora da obra de Carolina de Jesus)

“Dúvidas e frestas na letra de Carolina”, com Raffaella Fernandez (Pesquisadora da obra de Carolina de Jesus)
Comunidade Mauá
Rua Mauá, nº 342, Luz (ao lado da estação Luz de trêm/metrô)

Curadoria: Allan da Rosa & Ruivo Lopes

Produção: Ayo Produções

Apoio: Ocupação São João e Comunidade Mauá

Maiores informações: Edições Toró e Biblioteca Mario de Andrade

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Centenários de Carolina Maria de Jesus e Abdias Nascimento ganham programação especial em SP



CENTENÁRIOS CAROLINA MARIA DE JESUS E ABDIAS NASCIMENTO

Carolina de Jesus e Abdias Nascimento são casulos e esporas da letra brasileira e da diáspora africana no mundo. Brasas da literatura e das lutas do povo negro, tem muito em comum e também caminhadas bem distintas.

Entre a fantasia e o realismo, o confessional e a dramaturgia, a ficção e a composição musical, como escreveram? Como foram e são lidos? Pelo texto banhado de africanidades, entre o revide e a absorção de seus movimentos, a auto-crítica e o espetáculo, a fala representativa e seus conflitos internos, como vibravam suas letras?

Como outras mãos que bailaram nossas canetas e abriram reflexões, gestos e trilhos pelos livros, Carolina e Abdias ainda são menos reconhecidos e realçados, pesquisados e admirados do que o necessário. Porém, sabemos que nas beiradas das universidades, das críticas oficiais e da mídia graúda, há teimosia e sapiência mergulhando em seus textos, suas artes e histórias, desenhando um manancial de compreensão sobre suas passagens, seus frutos e as dimensões vastas, espinhosas e coloridas de suas obras com a complexidade de viver negro.

Vale ressaltar que suas obras vão bem além do que é mais conhecido de cada um. Carolina tem mais potência e sentidos ainda, além do seu grande sucesso “Quarto de Despejo”. Abdias, de glorioso passo como mentor, diretor, dramaturgo e ator do Teatro Experimental do Negro e da carreira como político e senador, também traçou várias linhas como ensaísta, poeta e foi artista plástico.

Os dois são pilares ativos com suas férteis contradições e celebramos nesse 2014 seus Centenários, ocasião para uma profunda, refinada e vigorosa consideração sobre seus estilos, temas, propostas e dúvidas. Seus horizontes se entrosam plenamente a lutas que hoje ainda latejam: os dois foram migrantes interioranos que se realizaram nas metrópoles e ganharam mundo. Em suas tintas ardem questões como a luta por moradia e creches, contra o racismo institucional, a violência da discriminação religiosa, a repressão aos pobres e o genocídio sistemático da população negra.

Justamente apresentados, reverenciados e questionados seus trabalhos na Biblioteca Mário de Andrade, ultrapassando limites de um mero evento, com vários encontros compondo as paisagens e giros de suas criações, espraiamos encontros também para outros espaços de luta, ocupações e terreiros, trançando e fortalecendo argumentos e vivências. 

Aguarde a programação completa (oficinas, mesas-redondas, debates, filmes, intervenções cênicas e leituras): Outubro: Carolina de Jesus     |     Novembro: Abdias Nascimento

Curadoria: Allan da Rosa & Ruivo Lopes | Ayo Produções 

Apoio: Comunidade Mauá, Ocupação São João
             Bloco Afro Ilú Oba De Min e Teatro Heleny Guariba

Mais informações no sítio da Edições Toró: www.edicoestoro.net

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Sozinhos na multidão



Em 2012, escrevi um poema chamado "Sozinho na multidão". O poema versava sobre um camelô que decidiu enfrentar a guarda que o perseguia e roubava sua dignidade. Era a luta de Davi contra Golias, o guardião da "cidade proibida" amparada no tripé "proibição", "criminalização" e "militarização" dos espaços públicos. Registrei a cena em um poema que pensei e gostaria que ficasse datado. A força dos fatos teima em deixá-lo atual. Eis alguns versos:

(...)
Aquele homem era um trabalhador
Mas naquele dia não deixaram ele trabalhar
Do pouco que tinha nada havia sobrado
Ele gritava sozinho na multidão

(...)
Aquele homem não tinha ido ali por acaso
Ele sabia de onde vinha a ordem pra tirar ele das ruas
Ninguém tinha dado permissão pra ele ficar ali
Ele gritava sozinho na multidão

(...)
Aquele homem sabia o que estava fazendo
Já tinha provado isso quando decidiu trabalhar na rua
Só estava cansado de ser caça na selva de pedra
Por isso, ele gritava sozinho na multidão*

Só em SP, em menos de trinta dias, dois trabalhadores ambulantes foram mortos, um pela GCM e o outro pela PM. O primeiro foi Edson Francisco Guedes, o Rapadura, bicampeão brasileiro de boxe, morto com seis tiros quando tentava vender garrafas d'água na porta da 23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em Santana, zona norte. O outro foi Carlos Augusto Braga, morto com um tito na cabeça quando tentava socorrer o amigo também ambulante dominado pelos policiais militares na Lapa, zona oeste. Para demonstrar que não se trata de caso isolado, o mesmo PM já havia matado neste ano um morador de rua  na mesma região.

Rapadura tinha dito a esposa que não deixaria as crianças passarem fome. Já Braga, disse a esposa que eles não correriam mais da polícia. Assim como os demais camelôs, ambos buscavam na rua a dignidade que lhes era devida. Morreram sozinhos na multidão!


* O poema "Sozinho na multidão" pode ser conferido na íntegra na antologia literária do Coletivo Perifatividade, Volume 2 (2012).

domingo, 14 de setembro de 2014

Direito humano ao livro, leitura, literatura e biblioteca no 7º Congresso Vaga Lume


 

Se ligaí! Nesta terça-feira, 16, participo do 7º Congresso Vaga Lume que vai reunir jovens da Amazônia atuantes em programas de intercâmbios culturais por meio da leitura, da escrita e da oralidade, valorizando o protagonismo de pessoas e de comunidades rurais. O encontro vai acontecer no SESC Bertioga, litoral de SP. Nunca fui a Amazônia e tô muito ansioso pra trocar com os 90 amazonenses que participarão do encontro. Vou versar prosa sobre iniciativas que promovem o direito humano ao livro, leitura, literatura e biblioteca como o Ponto do Livro. Que eu não vou falar sozinho isso já é certo, estarão lá também trocando ideias e experiências Márcio Souza da Biblioteca Comunitária Beija Flor (Macapá), Tereza Franzon da Biblioteca Livre do Campeche (Florianópolis), Isabel Penteado do Instituto Fazendo História e Syl para a leitura dos Direitos Universais das Crianças.